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quarta-feira, 25 de julho de 2007

Senhor, com todo o respeito

Fernando Rosa é além de criador e editor do site Senhor F.,um senhor apaixonado pela cena do rock independente desde as primeiras bandas garageiras da década de 60. Hoje, a agencia de noticias tornou-se referência para o Brasil, ao emaranhar em uma só teia lançamento de discos físicos e virtuais, festas, programa de rádio e projetos sociais como Senhor F. na escola .Nessa entrevista o incansável Fernando, que também assina inúmeros releases de bandas, atesta porque senhores merecem respeito.

Por Alexandre Moreira e Suzana F.

Loaded- O Senhor F. é hoje um conglomerado pró rock independente . Para você um dia tudo isso vai fazer ou ser sentido?

Senhor F - Olha, a origem de tudo é a revista Senhor F, isso lá pelos idos de 1998 (meu deus, vamos completar 10 anos ...). Surgiu assim meio como hobby, diversão, e também uma maneira de coletivizar informações. Aliás, o meu lado repórter, de jornalista que sou, antes de todo o mais. A revista tinha um lado ainda mais voltado para o resgate da história do rock brasileiro, latino-americano e, mesmo, internacional. Nesse período, a gente trouxe à tona coisas como o lado psicodélico do Ronnie Von, a psicodelia nordestina dos anos setenta, a Jovem Guarda mineira, a garagem paulistana dos anos 60, bandas perdidas no tempo como a carioca Spectrum, biografias de grupos como Bubbles/Bolha etc. Mas, já tinha o pé no lance independente, que começava a dar seus primeiros passo na internet, ainda que timidamente. A medida que esgotamos, em boa parte, o lado de “história” da revista, a cobertura da cena independente foi aumentando, o que resultou na Agência de Notícias, no Senhor F Virtual, no Senhor F na Escola, no selo Senhor F Discos. O legal é que crescemos junto com a cena, acompanhamos a trajetória da maioria das bandas, ouvimos e divulgamos suas “demos”. Bem, é claro que não fazíamos a menor idéia de que a “marca” Senhor F e todos os seus “produtos” teriam a repercussão futura que tiveram. Na verdade, as coisas foram acontecendo e a gente foi assumindo as novas responsabilidade, especialmente frente ao processo de construção de uma nova plataforma para a música jovem no país. Acho que pelo fato de tudo ter sido feito de forma muito natural é que chegamos ao estágio em que chegamos, sem um tostão seja de dinheiro público, seja da iniciativa privada. Não que a gente não tivesse tentado, apresentado projetos, como recentemente na Petrobras, mas sei lá por qual motivo não nos enquadramos nas exigências dessa gente.

L - Nesse período do seu envolvimento mais ativista com rock independente, qual sua análise qualitativa da safra atual de bandas nacionais? Além dos nomes ligados ao vosso selo, quais nomes você apostaria muitas das suas fichas?

S.F – Acho que o maior acesso às novas tecnologias tem seu lado “do bem” e “do mal”. O primeiro, porque democratizou a produção musical, libertando o músico da necessidade de passar pela grande indústria fonográfico para “existir” como artista. O lado ruim é que isso também faz com que se produza qualquer coisa, de qualquer forma, o que pode confundir um pouco. Mas, evidentemente, o saldo é positivo, pois nunca tivemos tantas bandas legais, em regiões tão diferentes, com obras tão raras e diversas. Não gosto de citar essa ou aquela, mas arriscaria dizer que bandas como Vanguart, Ludovic, Pública, Macaco Bong, The Feitos, Pipodélica, Móveis Coloniais de Acaju, La Pupuña, Tom Bloch, Gianoukas Papoulas, Monno, Charme Chulo e Watson, para citar algumas, tem potencial, qualidade e apelo para conquistar espaços mais amplos que os limites atuais da cena independente. Sem falar, claro em bandas já estabelecidas como Autoramas, Relespública, MQN, Prot(o) e Canastra, entre outras.

L - Senhor F também é responsável por apresentar muitas novidades vindas, principalmente de países hermanos. Você crê que esse "mercosul" do rock independente é um campo que pode ser melhor explorado? Também por bandas que cantam em portugês?

S.F – Sim, é um belo caminho a ser trilhado, aberto. Antes, essa relação era feita pela grande indústria, um lance de mercado, impessoal, com bandas indo do hotel pro show. Sempre acreditei que isso poderia ser diferente e, por isso, apostamos nessa aproximação, primeiro editorialmente e, agora, com o selo, estamos indo mais longe. Seja promovendo turnês, sugerindo bandas para os festivais da Abrafin, ou mesmo realizando parcerias para lançamento de discos. Senhor F Discos, por exemplo, lançou o álbum solo do argentino Rubin no Brasil, e o selo dele, Scatter Records, acaba de lançar o segundo Superguidis lá. Considero essa nova realidade algo irreversível e, do ponto de vista histórico, um grande passo para a integração dos povos da América do Sul. A juventude é mais aberta, menos preconceituosa, e pode ser uma ponta de lança, além da integração política. Hoje, no terreno independente, existe troca em todos os campos, seja humano, de conhecimento musical, de tecnologias. Recentemente, acompanhei a turnê do Superguidis por Buenos Aires, La Plata e Montevidéu, e constatei o quanto o contato direto é importante. Existe um sentimento comum, uma identidade diante da vida, da produção musical. Um novo “mercado” comum.
L - Não só no Brasil, mas no sentido global, percebemos um levante em torno do rock e principalmente do "indie rock". Que fatores você consideraria para essa "nova onda"? Você acha que essa molecada afeita da era internética é mais ávida por rock?

S.F – Acho que as pessoas estão se cansando de serem tratadas como idiotas pela indústria fonográfica que se afasta cada vez mais de qualquer compromisso cultural ou estético. A história do rock por outro lado, sempre foi assim desde sua origem, quando surgiu além dos grandes centros urbanos americanos. Depois, nos anos sessenta, também ressurgiu pelos subúrbios ingleses, pelas mãos de filhos da classe operária ou classe média baixa. O punk rock também chutou a bunda do “velho” rock desde universos pouco ortodoxos, do que é exemplo o CBGB e suas bandas. Depois, nos anos noventa, o “grunge” tomou de assalto o rock desde Seattle, mais ou menos o último buraco americano e, o “indie” rock floreceu em pequenos lugarejos. Acredito que hoje, de alguma maneira, vivemos um pouco disso, com o novo rock surgindo em regiões totalmente “fora do eixo”, muito por conta da internet e das novas tecnologias, que aproximam a aldeia do universal instantaneamente. Exemplos disso no Brasil são bandas como Los Porongas, de Rio Branco, Vanguart, de Cuaibá e Superguidis, de Guaiba, cidades, estados, sem nenhuma projeção anterior no universo do rock nacional.

L - De todos os tentáculos do Senhor F, o projeto Senhor F na Escola salta aos olhos pela sua originalidade e pertinência. Explane um pouco sobre essa empreitada. Como é a aceitação da molecada? Como tem sido a abertura por parte dos colégios?

S.F– Bem, este seria o nosso lado “social”, digamos assim. Ou mais ainda, nossa contribuição para a educação e formação de público. O projeto integra a cena independente com as escolas públicas, por meio da difusão da informação e de shows para a molecada, que também tem a possibilidade de se apresentar. Estamos na terceira edição e a aceitação é excelente, tanto por parte dos alunos, claro, quando dos professores e diretores das escolas. É uma idéia legal, que queremos ampliar, integrando a inclusão digital no processo. Mas isso ainda é um projeto para este, ou para o próximo ano.

L - Findando. Do auge da vossa experiência, diga porque os garotos e garotas devem, ou não se meter com rock.

S.F – Em uma entrevista que fizemos com Eduardo Araújo, ele disse que o rock deu voz para a juventude, em sua época, que deu liberdade de expressão para aquele setor social até então afastado do convívio social. Acho que, de alguma maneira, isso ainda tem um pouco de verdade, pelo menos para aqueles jovens que se negam a aderir ao sistema vigente sem qualquer questionamento. Outro dia, em Buenos Aires, durante a turnê do Superguidis, conversávamos sobre se o rock ainda cumpre esse papel, se a música ainda tem esse sentido questionador ou se transformou em mero produto de entretenimento. Acho que nem tudo está perdido, que a música, enquanto manifestação artística, ainda pode servir para ajudar a definir a vida de uma pessoa, suas relações, seus sentimentos, formar sua personalidade. Por vezes, até mesmo dar sentido a sua vida.

L – E hoje, o que entoa em seus sentidos ?

S.F – Muita coisa independente brasileira, em primeiro lugar. Ouço tudo que chega para a revista e para o selo. O novo disco dos Autoramas é um dos “top” da minha pilha de cds. Os dois últimos lançamentos do selo, claro, Los Porongas e Superguidis. O disco de estréia do Vanguart, que ouvi antes, por conta de escrever o release. Os discos do Ludovic, do Supercordas, do Charme Chulo. De fora, o que mais ouço é a argentina El Mato a Un Policia Motorizado, uma das melhores coisas que ouvi, que mais me emocionou, nos últimos anos. Ando ouvindo também rock peruano atual, principalmente Turbopotamos e Vaselina, lançados neste ano. Das velharias, nem tanto, Dinosaur Jr., Sebadoh, Alejandro Escovedo, Andres Calamaro e Bob Dylan, de todas as fases. Ainda Walkmen, Black Angels, Awesome Color e Rapture. Isso agora, hoje…

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