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quinta-feira, 31 de maio de 2007


Espero que eu morra antes de ficar velho

Por Suzana F.


Ironicamente, existe vida após a velhice! E as pulsações às vezes tornam-se mais intensas quando se trata de velhinhos com mais de 90 anos. Esse é o caso da banda The Zimmers, ou “os andadores” em português, fazendo uma analogia ao equipamento que os membros do grupo mais usam nas ultimas décadas. A banda que regravou o clássico “My Generation” ficou famosa na internet, e hoje totaliza 2.153 visualizações no youtube, além de ter um MySpace. Tudo começou quando Tim Samuels realizou um documentário que tentava chamar a atenção com o drama vivido por milhões de aposentados britânicos abandonados: 3,5 milhões vivendo sozinhos e meio milhão em asilos. Entretanto, Samuels não queria se enquadrar como vitima, e foi então que resolveu pensar mais alto. Saiu em viagem pela Inglaterra como um rapaz que acaba de montar uma banda à procura de novos integrantes e conseguiu reunir 40 velhinhos. Alguns acharam a idéia ridícula, mas mesmo assim resolveram arriscar.
Depois de formar a banda, Samuels foi tentar conversar com gente da música, e Mike Hedges, produtor do U2, Dido e The Cure, aceitou produzir o single. Neil Reed, da gravadora X-Phonics, concordou em lançá-lo. E Geoff Wonfor, diretor do vídeo do Band Aid, resolveu fazer o videoclipe.
Para atestar que o sonho não acabou Samuels conseguiu o estúdio Abbey Road, onde os Beatles gravaram, para finalizar a produção do single.
Esses vovôs do rock são a prova que algumas vezes o sonho não tem idade, mesmo que ande de bengalas.
Para quem ainda não viu:

terça-feira, 22 de maio de 2007



O álbum não acabou

Por Suzana F.


No último domingo fui à exposição do papito, que conheceu o fotógrafo norte-americano Bob Gruen, em uma das suas andanças e tentativas de ser um respeitável ser na cena underground. O resultado dessa amizade rendeu um acervo com mais de 270 fotos dos bastidores do rock na exposição Rockers, com curadoria do Supla, aquele mesmo ser que buscava respeito enquanto a cena era efervescente.
Em mais de 40 anos registrando shows memoráveis, e momentos de piração dos backstages, Gruen se mostra um cara felizardo que não sabe dizer ao certo como tudo começou. “Eu somente estava no lugar ideal, na hora exata.”
Com toda essa sorte, intuição e modéstia, ele saía viajando por aí com as bandas novas e ainda desconhecidas, e sempre retratava um momento peculiar. Quando Sid brigou com umas garotas da platéia e cantou todo ensangüentado, ele estava lá, quando Lennon exibia o filho Sean com Yoko no apartamento dos dois em 75, deixando até um pote de vaselina à vista das lentes, ele estava lá! Quando Courtney Love levava uma dedada em um dos seus moshs, ele também estava lá.
Amenidades à parte, a mostra que fica no Mab FAAP até 01 de Julho, é intimista, e capta instantes únicos de Patti Smith, Ike e Tina Turner, New York Dolls, Deby Harry e Iggy Pop, Elvis Costello, chegando a Julian Casablancas, até fechar com uma foto de Joe Strummer, guitarrista e vocal de uma banda considerada uma das mais importantes para Gruen: o Clash.
Evento gratuito e muito bem organizado levanta uma mínima suspeita, quase inexistente: o senhor rock freqüentador de porões calorentos e nauseabundos se tornaria assíduo em uma galeria de fotos de uma sala ventilada?
Para alguns intelectuais em suas inúmeras teorias de botequins, toda aquela festa megalomaníaca do rock - o pré e o pós dos shows- já era, mas basta olhar para as pequenas turnês existentes por todos os cantos do Brasil e do mundo, é nítido todo aquele mesmo envolvimento de décadas, reinventado e com gente bacana e capaz de imortalizar o bom e velho álbum de retratos.

quinta-feira, 10 de maio de 2007

Arqueologia do rock ou porque algumas espécies duram mais tempo que deveriam

Por Suzana F.


Depois da pré-histórica reação paulistana a alguns shows do Festival Fora do Eixo (e apresentações que se ampliaram e se ampliam até hoje) aqui na cidade de ferro, fica a dúvida: por que uma cidade tão contemporânea busca o novo e ao mesmo tempo o repulsa com o velho?
A porta de entrada dessa enorme caverna sempre foi de acesso às novidades que surgiam e ao mesmo tempo fechavam-se as janelas que davam para as garagens de outros estados do país.
Aos poucos foi-se desmistificando as estradas de diversas rotas e encontrando a atitude e o rock por todos os cantos, mas algumas pessoas encontraram bandas “novas” por aqui e fecharam-se em universos particulares de platéias grandes. Entretanto, “bandas novas” não são apenas garotinhos de pouca idade, ou roupas e equipamentos novos no palco. São idéias, arranjos, e musicalidade em propostas autênticas e inovadoras.
Quando se sabe identificar isso, o novo não se torna velho, como as mesmas bandas novas que são preferências de certos públicos durante anos com o mesmo single faixa-título.
São Paulo ainda é um senhor de meia idade, de braços cruzados de frente à TV, criticando com os olhos, e cansado para levantar do sofá e mostrar animação ao que não acredita. Platéias apáticas as vezes esquecem que rock é sinônimo de cheiro de suor, esbarradas e subversidade , e a cidade é condicionada desde sempre a ter pressa com tudo. Se a banda não agrada em 2 minutos, o balcão é o melhor lugar para uma encostada dos acomodados.
Durante muito tempo ser cool era ter olhar blasé, e desprezar tudo que era diferente às franjas, e uniformes noturnos. Essa hipocrisia sem tamanho já passou da hora de cair por terra, e São Paulo deveria aproveitar a acessibilidade que uma metrópole de tal tamanho oferece.
Mas talvez seja muito cedo para aprender o quanto atrasados somos em freqüentarmos sempre os mesmos lugares, para assistir sempre a mesma banda, e para emitir os mesmos gritinhos para aquela musica que toca na pista, sempre. (Salvo as exceções, o quadro antepassado que existe na cidade ainda é esse).
Nada contra o apego a certos comportamentos, mesmo porque o combustível da música é o sentimento, mas acho que o rock , assim como toda a espécie, tem sua vida útil no planeta, para dar espaço a outro tipo de espécie, e assim, remover ossos que atrapalham os arranjos. Sendo assim, o rock nunca irá ser extinguido, a criação de novas espécies fará com que ele seja renovado e perpetuado para todo o sempre. E o que era bom do passado, continuará sendo desenterrado, para o nosso bom saudosismo e influência para as novas gerações.