Excluídos da Academia de Letras
03 de janeiro de 1999
O convívio com a espécie sufoca-me cada vez mais. O primeiro amor
na verdade não foi o primeiro e obviamente não seria o último, foi
apenas o amor que me acolheu. Ao abrir os braços atirei-me de peito
aberto, enfeitiçado pelo aroma, aprisionado pelo desconhecido,
estremecido pelo instinto. Porém, cada parte do meu corpo ruiu, o
sentimento supremo causou-me nojo pela necessidade de ser
constantemente alimentado, insaciável, monstro faminto de desejos,
o extremo humano, o sorriso que consome a alma.
Abalado resisti à tentação, o mal de todos os homens que consiste
em esquecer, simplesmente ignorar ter alcançado, mesmo que por um
dia, o prazer. Segui firme na luta contra o estômago, o nó que
apertava o meu interior. Havia em mim a necessidade de refazer meus
hábitos alimentares, de consumir e ser consumido, de vir a ser pó,
nada. Mas o amor é supremo demais para isso, de uma divindade
egoísta. Há que o diga que o amor é generoso, pois eu vos digo: O
amor foi o começo do meu fim.
Não confunda minhas palavras com a de um homem rejeitado, lamentado
junto ao rebanho o descaso da mulher amada. O que me entristece é
saber que tal sentimento tornou-se o escudo para os fracos, a
muleta dos aleijados, a desculpa da minha morte.
Edu R. , morto em 1999. {Cartas Póstumas}
os textos escritos a mão foram deixados pela mãe em um sebo, junto com
a coleção dele de Allan Poe,Fante, Kerouac , Dostoievisk, Álvarez de Azevedo, Neruda e outrens...
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