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quarta-feira, 12 de setembro de 2007

E aí pessoas!

Alexandre Moreira

Uma semana após as ocorrências do Festival Calango, posso dizer que o sono, os ouvidos e o fígado já estão quase recuperados. O problema é que nesta semana tem o Jambolada em Uberlândia – o Loaded vai estar nessa empreitada também – ainda não confirmei presença, mas o Valter é figura certa no maior festival do estado de Minas Gerais.

Nesta postagem me aterei ainda ao festival acontecido em Cuiabá e às suas causas e causos. Na verdade na semana passada, ainda sob a adrenalina do festival, escrevi absurdas e empolgadas oito páginas. Agora, bem mais condensadas as idéias e as palavras, creio que a visão Loaded estará expressa, mas não se esqueçam de assistir em algumas semanas, o nosso vídeo sacado de dentro do Festival. Além do conteúdo musical do festival, vale citar as outras artes integradas, os ciclos de palestras, também o junkie-food dos mais nervosos e tudo que gira em torno de um grande evento roqueiro. Afinal o Calango está entre os cinco maiores da Abrafin (Associação Brasileira de Festivais Independentes) e é exemplo mor do porque desses festivais serem tão importantes para a cultura jovem brasileira e porque também são hoje a ‘grande mídia’ para as bandas iniciantes. Dar as caras em um festival é alçar algo a mais para as coisas fazerem sentido. Por volta de 6.000 pessoas acompanharam o evento nos 3 dias. Há também de se ressaltar a preocupação da organização, a cargo do Espaço Cubo, em não levar para o evento, os famosos artistas-que-chamam-público. Todas as bandas, desde o Zen Fim às 19:00hs da sexta-feira, até Tequila Baby na madrugada da segunda, 03/09, não têm vínculo com selos e gravadoras de grande, ou médio porte. Talvez o melhor conceito do que é fazer música independente seja esse dos cubistas.

Minhas impressões gerais sobre o evento têm um hiato no conteúdo do primeiro dia do festival, afinal não consegui ver tudo o que rolou na sexta-feira, dia 31, pois no coquetel inaugural, uma tal “insolação” me deixou em baixa a certa altura da primeira noite. Nos outros dois dias acompanhei tudo de bem perto, pois mesmo com muito calor não fui acometido pelo problema.

Durante o Loaded #95 eu e o Valter também discorreremos sobre mais coisas. O #94 está no ar e foi feito dentro do nosso confortável apartamento 417 do hotel Itaiamã (?). Bem, confortável para duas pessoas, porém transformado em estúdio, com Jeff Molina, um dos Corações Em Fúria; Ricardo Rodrigues da UFSCAR, os quatro integrantes do Carolina Diz, mais eu, o Valter, a muvuca dos nossos equipamentos e mochilas para todos os lados, e tudo isso sendo gravado com o barulhento ar condicionado desligado... parecia o Hell Room dentro de Hell City. Adreana Rangel, do Correio de Minas também gravaria conosco, mas decidiu fugir do futum male rocker.

Se ainda não o fizeram, dêem uma ouvida e agradeçam que rádios e computadores não exalem cheiro.

Para o burburinho de trás dos palcos, pensarei bastante se podem e/ou devem ser postados. Agora, que mereciam, ah mereciam... Como na sua etimologia, a palavra ‘festival’ significa “grande festa”, não há como não aplicar outro contexto para o Calango. Estavam lá representantes da grande safra indie nacional e também jornalistas especializados do país todo, produtores, curiosos e um público quente (não há como não ser). Tudo resulta numa grande harmonia festeira (ou quase) apropriadíssima para reencontrar toda essa leva de pessoas que têm rodado a terra brazilis cobrindo e descobrindo festivais. Nomes como: Programa Alto-Falante da Rede Minas; Revistas Rolling Stone; Dynamite e até a Veja dentre outras, os mais variados Jornais, Sites como o esperto Urbanaque e blogs sempres antenados como o Goiânia Rock News, uniram-se ao demais fazedores de rock e também festejam.

O balanço do Calango pode ser expresso em uma frase: Shows poderosos, organização, calor, cerveja e muitas gargalhadas. A organização ‘cubista’ é imbatível, todos muito bem entrosados e aptos para não deixar o bando de roqueiros na mão, e isso significa uma tarefa ingrata, porque enfiar quase 200 fulanos em um hotel dos mais bacanas e suportá-los com transporte full-time para o leva e trás desenfreado de aeroporto, alimentação, palestras e shows, só uma tática de guerrilha capitaneada por Pablo Capilé para dar tão certo como deu. Com relação aos shows, não se preocupem, não vou resenhar banda por banda. Não tenho tanto gabarito para tal e só mais xiitas leriam tantas mal fadadas linhas feitas pelo rapaz aqui. Aterei-me aos destaques, e para você se informar de melhor maneira, o belo site do Calango (www.festivalcalango.com.br) esmiúça toda a parada, além de todos os outros veículos que lá estavam e cobriram de maneira muito mais esperta do que o tal Loaded E-Zine. Ah! Vai de maneira randômica também. Para ficar um pouco menos óbvio e de acordo com minhas lembranças também.

Vaguart penúltimo show do festival

Talvez o mais aguardado por todos nos três dias, afinal era o primeiro show dos rapazes em sua terra natal, após o lançamento do primeiro álbum. Foi um belo show, porém muito curto, o problema era que o fechamento da noite não ficou por conta deles, então tiveram que condensar em 30 minutos algumas das faixas novas e outras antigas (me impressionou as groopies com as músicas novas na ponta da língua, afinal o disco saiu há menos de um mês e não havia vazão na net antes disso), muitos marmanjos também faziam coro. Realmente Vanguart faz jus ao fervor em torno deles. As faixas acima da média e um desempenho muito bom de palco. O bailar de Reginaldo com seu baixo e a postura de Helinho, que também contaram com um ilustre bailarino deveras caracterizado de menino maroto do inicio do século passado (acho que era isso), uma espécie de Bezz, do Happy Mondays, aquele cara que não canta, não toca, só fica ali no palco saracuteando. Antes da última faixa, acordes afoitos do Tequila Baby no outro palco causaram estranheza, e ao meu ver o maior ponto falho de tudo. Eu que já não era muito fã do TB, com essa, a meu ver, indelicadeza, perderam um espectador. Soou como um certo desrespeito com os garotos de cima e abaixo do palco. Segurada a onda, o palco foi invadido por Daniel Belleza e outros, que numa bela balburdia, esgoelavam ‘que só acreditavam no Semáforo ’ para aí sim findar o aguardado porém curto show.

Confesso que esperei uma comoção maior por parte do público cuiabano junto à banda, mas isso pode se justificar com o adiantado horário de um domingo.

Daniel Belleza e Os Corações em Fúria

Com total dominação sob o público, DBCF pareciam estar tocando no quintal de casa. As carecas de Jeff Molina e Jhony Monster, mais o incessante rebolar de Rangel deram mais brilho ainda ao ‘MC’ Daniel Belleza. O cidadão subiu ao palco com um traje de maracatu todo negro, segundo ele: “Maracatu do Inferno”. Logo de cara dizendo que não tocaria com as pessoas tão distantes do palco (entenda: 1,5 mt – a área restrita á imprensa), isso fez com que o povão começasse a empurrar até cair o pequeno alambrado que os ‘distanciava tanto’ dos ídolos. Fotógrafos, jornalistas e outros que ali estavam, foram tomados pela massa. Era o sinal da catarse. Com a rodagem de muitos festivais nas costas, a banda é sem dúvida um dos grandes nomes do indie rock nacional. Show redondo sem ressalvas, a não ser meu calcanhar semi-ralado pelo alambrado invasor. Foi daquelas bellezas que só show de rock pode proporcionar

Astronauta Pingüim

Acompanhado por dois Corações Em Fúria na cozinha, Jeff Molina (o baterista do festival) e Jhonny Monster, no baixo e guitarra, Pingüim e seu Moog fez, disparado uma das melhores apresentações de todo o Calango. Suas versões para Madonna, Nirvana entre outras, deixaram os cuiabanos ensandecidos. Muito bom ver o público acatando o rock n roll em variações menos tradicionais. Pingüim rasgava, com seu sotaque gaúcho carregado de sarcasmo, algumas palavras aos afoitos da platéia. Ganhou todo mundo. Vale frisar que o Pingüim age o tempo todo com esse sarcasmo de nível bem alto, piadista de mão cheia.

Manacá

Se pudermos dizer que há hype no nosso cosmo indie, o Manacá é umas das bolas da vez. Revistas exaltando; destaque em sites; elogios no backstage e até aqui no Loaded rolaram por duas vezes em pouco tempo. Banda com cara de sucesso popular. O primeiro show a incandescer o público do sábado. A bela vocalista Letícia Persiles com seus trejeitos maria-ritianas demonstrou charme e afinação necessária para seu estilo de música, galgado em coisas como: “Novos Baianos”, e também para arrebatar corações marmanjos.

Terminal Guadalupe

Estava louco para ver um show do Terminal Guadalupe e me saciei como a muito não fazia. Expondo o seu “A Marcha dos Invisíveis”, disco que acompanha DVD. Os curitibanos pegaram o público eufórico do Manacá e jogaram gasolina. Dary Jr, o vocalista estudioso de música, é um front man convicto. Impressionante o teor pop do TG. Em dado momento as duas guitarras se defrontaram, e todo meu corre-corre pelo universo independente fez sentido. Poucas vezes me ocorreu arrepio semelhante. Show mais que necessário nessa vidinha mundana. Outra coisa, o CD e DVD dos caras é aula de economia para majors. Que estas procurem Dary Jr. para saber como se deve fazer. Melhor, morram e deixem as bandas e selos menores fazerem.

Cabaret

Não dava para saber se Marcelo ‘Marvel’ representava ou se realmente se indignava com o cabo do microfone, insistente em desplugar. A performance era Sidney Magal total, mas suas caras e bocas me lembravam David Lee Roth. A baixista ‘De Luxe’ me impressionou pela postura tão centrada ao lado de um insano como o Marcelo.

Macaco Bong

Pelo backstage você poderia trombar a todo o momento com os Bongs, verdadeiros operários da música. A parte técnica do evento era a cargo deles. Como verdadeiros super-heróis que têm dupla identidade, ficam na surdina, depois incorporam o caboclo-toca-muito e salvam o mundo. Todos queriam ver a melhor banda instrumental do país em ação no palco que eles tanto ralaram. Kaiapy é nosso guitar hero sem pedal, Ney Hugo tem o baixo e ninguém tasca, ao Inayã, a deliciosa tarefa de bater com maestria. Eu que nem gostava muito de fusion há algum tempo, hoje fico a visualizar o Macaco Bong como head liners em um mega festival roqueiro no mundo. A exemplificação maior da música brasileira em todos os aspectos.

O Quarto Das Cinzas

Eletricidades têm agradado bastante o público rocker. A vocalista Laya Lopes é outra candidata à namoradinha dos indies. Belíssimo desempenho com baixo contundente, guitarra afiada e beats; loops e bytes a cargo de um lap-top foderoso.

Montage

Seria Daniel Peixoto um sex simbol da cena? A primeira vez que vi um show do Montage já faz uns dois anos. Nesse hiato fui acompanhando de longe o crescimento da banda, sem saber as quantas andava o desempenho de Daniel no palco. Na primeira vez confesso ter achado ele meio inseguro para o que pedia sua música e seu visual. Entretanto nesse Calango o cara parecia um gigante de quatro metros de altura de pura testosterona. A molecada pirou, e mesmo no aguardado show do Vanguart não deixavam de interpelá-lo para as fotos e autógrafos. God save the beats!

Móveis Coloniais de Acaju

Nunca fui muito afeito a muitos metais no rock, nem àquelas performances. Ok! O Móveis não é rock mesmo, e eu sou chato também. Mas é incontestável o carisma dos rapazes no palco e fora dele, talvez esse o grande trunfo para o indie-hype em torno dos brasilienses .Eles subiram ao palco quase às quatro da manhã do domingo. Uma grande parte do povo ainda se mantinha firme aguardando o fuzuê que eles provocariam, e não deu outra, festão com direito às famosas rodas e tudo mais.

Vou ter de aferir mais meus ouvidos para o som do Móveis, vou tentar me convencer.

Dead Smurfs

Ô molecada dos infernos! Bagunçaram o tempo todo em todos os cantos. Tinham tudo para um show picareta no mal sentido, mas não foi. Foi picareta no bom sentido.

Trouxeram de Uberlândia, além do carregado sotaque, uma maldita cachaça com gosto de azeitona, acondicionada numa espécie de garrafinha plástica, aqueles frasconetes de suco vendido em banca de pastel. Fizeram farta distribuição desse veneno do marketing, e jogar qualquer coisa para o povo sempre rende certa empatia. À sua maneira ganharam o público, também bem jovem, e com seus discursos pastelônicos entre uma faixa engraçadinha e outra, além das cômicas coreografias. Sem demérito, ganharam o troféu Mamonas Assassinas do festival.

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Ainda teria de falar do show morno do Pública, dos estilosos brothers do Rockefellers, das covers japonesas do camarada Aarão e do seu Camundogs, dos aplausos arrancados à unha pelo Cravo Carbono, do Maldita, do Mr. Jungle e muitas outras que haja ‘fosfozol’ para lembrar. Só não poderia falar das bandas que não vi, seja por motivos ébrios, esgotamento, ou falta de paciência para os “mais do mesmo”. Algumas bandas novas insistindo em fórmulas batidas como HC, ou Hardões setentistas demais para a meninada defronte ao palco. Porém é muito válido para essa geração que começa a se habituar a fazer rock estar presente em um festival grande como o Calango, não só para tocar, mas principalmente para aprender com os mais experimentados.

E outra vez, congratulações aos cubistas.

O Loaded acompanhou o Festival Calango a convite do Espaço Cubo.

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