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segunda-feira, 30 de julho de 2007

Por Suzana F.

Ednepedni acordou tarde e saltou da cama em um pulo. Ele tinha horas de sobra para passar dormindo, mas sentia culpa naquele falso conforto de quando não se faz nada.As aulas começavam só a noite, e na atual situação do país, não havia emprego para jovens da sua idade, sem experiência em coisas que não queriam aprender. Dedilhou um pouco aquelas mesmas cordas à procura de alguma melodia. Saiu às ruas, sem direção definida. Eram os fabulosos anos 60, que trazia beleza nas agruras das esquinas. Agora Ednepedni não sentia culpa em andar a esmo. Havia criação em cada canto onde seu olhar pudesse alcançar. Os cabelos comportados da garota mostravam uma rebeldia na sua pureza. Aquelas roupas , todas tão iguais quando juntas, mas diferentes na sua tentativa de destaque, gritavam por liberdade. Ele viveu a efervescência da criatividade , quando todos estavam cansados da mesmice e calmaria apática da bossa nova. Aos poucos criavam um clã, que só exigia o talento da transformação como requisito. Era aberto a todo o tipo de idéia, porque por mais singelas ou amorosas que fossem, carregavam revolta pelos que se encostavam no tempo presente. Não se tratava de contemporaneidade , mas para cada um, havia um sentimento frequente de que a pasteurização de bandas que fugiam da realidade, exaltavam uma paz que não existia. Quando Ednepedni viu seu reflexo no espelho, percebeu que era um dos neoconcretistas brasileiros. Era parte fundamental de uma pequena grande multidão de pessoas que se propunham a promover interação entre a arte e o publico. Os zines circulavam pelos esmaltes gastos, e mesmo a censura da falta de grana, o microfone não parava de captar sua vozes mesmo quando alguém tentava desligá-lo . E ele viu tudo reverso no espelho, e isso era prova de que eles haviam conseguido. Seu nome, estranho para alguns, não precisava de aprovação, porque já a carregava em si.

Agora, os meninos não podiam afirmar que toda aquela sociedade era coisa antepassada, pois Ednepedni ainda não sabia se aquele ano era 60 , ou 2000..

sexta-feira, 27 de julho de 2007

Loaded 88


Quem ouviu o programa da semana conferiu a regravação de uma música que está inclusa em um dos melhores discos (na minha opinião) dos últimos tempos.

Alguns músicos indies norte-americanos se reuniram para regravar faixas do disco Ok Computer do Radiohead. Karma Police, uma das minhas preferidas, foi cantada por John Vanderslice, e está lá no Loaded 87.

Na próxima semana haverá mais uma versão , não tanto sensacional, mas bastante “peculiar” dessa canção.

Além dessa surpresa , vai dar para conferir duas faixas novíssimas do Sweet Fanny Adams, saindo pela Coquetel Molotov de Recife, que também lança sua revista nº 3 e anuncia seu festival: "No Ar Coquetel Molotov."
Uma faixa do projeto cru e primitivo do americano Rob K e do paulista Marco Butcher . Já o cru e contemporâneo de Tom Zé se mistura com Ecos Falsos, e a influência da música brasileira é pautada também em rockstars famosões.

Tem também um resgate do baú !

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Senhor, com todo o respeito

Fernando Rosa é além de criador e editor do site Senhor F.,um senhor apaixonado pela cena do rock independente desde as primeiras bandas garageiras da década de 60. Hoje, a agencia de noticias tornou-se referência para o Brasil, ao emaranhar em uma só teia lançamento de discos físicos e virtuais, festas, programa de rádio e projetos sociais como Senhor F. na escola .Nessa entrevista o incansável Fernando, que também assina inúmeros releases de bandas, atesta porque senhores merecem respeito.

Por Alexandre Moreira e Suzana F.

Loaded- O Senhor F. é hoje um conglomerado pró rock independente . Para você um dia tudo isso vai fazer ou ser sentido?

Senhor F - Olha, a origem de tudo é a revista Senhor F, isso lá pelos idos de 1998 (meu deus, vamos completar 10 anos ...). Surgiu assim meio como hobby, diversão, e também uma maneira de coletivizar informações. Aliás, o meu lado repórter, de jornalista que sou, antes de todo o mais. A revista tinha um lado ainda mais voltado para o resgate da história do rock brasileiro, latino-americano e, mesmo, internacional. Nesse período, a gente trouxe à tona coisas como o lado psicodélico do Ronnie Von, a psicodelia nordestina dos anos setenta, a Jovem Guarda mineira, a garagem paulistana dos anos 60, bandas perdidas no tempo como a carioca Spectrum, biografias de grupos como Bubbles/Bolha etc. Mas, já tinha o pé no lance independente, que começava a dar seus primeiros passo na internet, ainda que timidamente. A medida que esgotamos, em boa parte, o lado de “história” da revista, a cobertura da cena independente foi aumentando, o que resultou na Agência de Notícias, no Senhor F Virtual, no Senhor F na Escola, no selo Senhor F Discos. O legal é que crescemos junto com a cena, acompanhamos a trajetória da maioria das bandas, ouvimos e divulgamos suas “demos”. Bem, é claro que não fazíamos a menor idéia de que a “marca” Senhor F e todos os seus “produtos” teriam a repercussão futura que tiveram. Na verdade, as coisas foram acontecendo e a gente foi assumindo as novas responsabilidade, especialmente frente ao processo de construção de uma nova plataforma para a música jovem no país. Acho que pelo fato de tudo ter sido feito de forma muito natural é que chegamos ao estágio em que chegamos, sem um tostão seja de dinheiro público, seja da iniciativa privada. Não que a gente não tivesse tentado, apresentado projetos, como recentemente na Petrobras, mas sei lá por qual motivo não nos enquadramos nas exigências dessa gente.

L - Nesse período do seu envolvimento mais ativista com rock independente, qual sua análise qualitativa da safra atual de bandas nacionais? Além dos nomes ligados ao vosso selo, quais nomes você apostaria muitas das suas fichas?

S.F – Acho que o maior acesso às novas tecnologias tem seu lado “do bem” e “do mal”. O primeiro, porque democratizou a produção musical, libertando o músico da necessidade de passar pela grande indústria fonográfico para “existir” como artista. O lado ruim é que isso também faz com que se produza qualquer coisa, de qualquer forma, o que pode confundir um pouco. Mas, evidentemente, o saldo é positivo, pois nunca tivemos tantas bandas legais, em regiões tão diferentes, com obras tão raras e diversas. Não gosto de citar essa ou aquela, mas arriscaria dizer que bandas como Vanguart, Ludovic, Pública, Macaco Bong, The Feitos, Pipodélica, Móveis Coloniais de Acaju, La Pupuña, Tom Bloch, Gianoukas Papoulas, Monno, Charme Chulo e Watson, para citar algumas, tem potencial, qualidade e apelo para conquistar espaços mais amplos que os limites atuais da cena independente. Sem falar, claro em bandas já estabelecidas como Autoramas, Relespública, MQN, Prot(o) e Canastra, entre outras.

L - Senhor F também é responsável por apresentar muitas novidades vindas, principalmente de países hermanos. Você crê que esse "mercosul" do rock independente é um campo que pode ser melhor explorado? Também por bandas que cantam em portugês?

S.F – Sim, é um belo caminho a ser trilhado, aberto. Antes, essa relação era feita pela grande indústria, um lance de mercado, impessoal, com bandas indo do hotel pro show. Sempre acreditei que isso poderia ser diferente e, por isso, apostamos nessa aproximação, primeiro editorialmente e, agora, com o selo, estamos indo mais longe. Seja promovendo turnês, sugerindo bandas para os festivais da Abrafin, ou mesmo realizando parcerias para lançamento de discos. Senhor F Discos, por exemplo, lançou o álbum solo do argentino Rubin no Brasil, e o selo dele, Scatter Records, acaba de lançar o segundo Superguidis lá. Considero essa nova realidade algo irreversível e, do ponto de vista histórico, um grande passo para a integração dos povos da América do Sul. A juventude é mais aberta, menos preconceituosa, e pode ser uma ponta de lança, além da integração política. Hoje, no terreno independente, existe troca em todos os campos, seja humano, de conhecimento musical, de tecnologias. Recentemente, acompanhei a turnê do Superguidis por Buenos Aires, La Plata e Montevidéu, e constatei o quanto o contato direto é importante. Existe um sentimento comum, uma identidade diante da vida, da produção musical. Um novo “mercado” comum.
L - Não só no Brasil, mas no sentido global, percebemos um levante em torno do rock e principalmente do "indie rock". Que fatores você consideraria para essa "nova onda"? Você acha que essa molecada afeita da era internética é mais ávida por rock?

S.F – Acho que as pessoas estão se cansando de serem tratadas como idiotas pela indústria fonográfica que se afasta cada vez mais de qualquer compromisso cultural ou estético. A história do rock por outro lado, sempre foi assim desde sua origem, quando surgiu além dos grandes centros urbanos americanos. Depois, nos anos sessenta, também ressurgiu pelos subúrbios ingleses, pelas mãos de filhos da classe operária ou classe média baixa. O punk rock também chutou a bunda do “velho” rock desde universos pouco ortodoxos, do que é exemplo o CBGB e suas bandas. Depois, nos anos noventa, o “grunge” tomou de assalto o rock desde Seattle, mais ou menos o último buraco americano e, o “indie” rock floreceu em pequenos lugarejos. Acredito que hoje, de alguma maneira, vivemos um pouco disso, com o novo rock surgindo em regiões totalmente “fora do eixo”, muito por conta da internet e das novas tecnologias, que aproximam a aldeia do universal instantaneamente. Exemplos disso no Brasil são bandas como Los Porongas, de Rio Branco, Vanguart, de Cuaibá e Superguidis, de Guaiba, cidades, estados, sem nenhuma projeção anterior no universo do rock nacional.

L - De todos os tentáculos do Senhor F, o projeto Senhor F na Escola salta aos olhos pela sua originalidade e pertinência. Explane um pouco sobre essa empreitada. Como é a aceitação da molecada? Como tem sido a abertura por parte dos colégios?

S.F– Bem, este seria o nosso lado “social”, digamos assim. Ou mais ainda, nossa contribuição para a educação e formação de público. O projeto integra a cena independente com as escolas públicas, por meio da difusão da informação e de shows para a molecada, que também tem a possibilidade de se apresentar. Estamos na terceira edição e a aceitação é excelente, tanto por parte dos alunos, claro, quando dos professores e diretores das escolas. É uma idéia legal, que queremos ampliar, integrando a inclusão digital no processo. Mas isso ainda é um projeto para este, ou para o próximo ano.

L - Findando. Do auge da vossa experiência, diga porque os garotos e garotas devem, ou não se meter com rock.

S.F – Em uma entrevista que fizemos com Eduardo Araújo, ele disse que o rock deu voz para a juventude, em sua época, que deu liberdade de expressão para aquele setor social até então afastado do convívio social. Acho que, de alguma maneira, isso ainda tem um pouco de verdade, pelo menos para aqueles jovens que se negam a aderir ao sistema vigente sem qualquer questionamento. Outro dia, em Buenos Aires, durante a turnê do Superguidis, conversávamos sobre se o rock ainda cumpre esse papel, se a música ainda tem esse sentido questionador ou se transformou em mero produto de entretenimento. Acho que nem tudo está perdido, que a música, enquanto manifestação artística, ainda pode servir para ajudar a definir a vida de uma pessoa, suas relações, seus sentimentos, formar sua personalidade. Por vezes, até mesmo dar sentido a sua vida.

L – E hoje, o que entoa em seus sentidos ?

S.F – Muita coisa independente brasileira, em primeiro lugar. Ouço tudo que chega para a revista e para o selo. O novo disco dos Autoramas é um dos “top” da minha pilha de cds. Os dois últimos lançamentos do selo, claro, Los Porongas e Superguidis. O disco de estréia do Vanguart, que ouvi antes, por conta de escrever o release. Os discos do Ludovic, do Supercordas, do Charme Chulo. De fora, o que mais ouço é a argentina El Mato a Un Policia Motorizado, uma das melhores coisas que ouvi, que mais me emocionou, nos últimos anos. Ando ouvindo também rock peruano atual, principalmente Turbopotamos e Vaselina, lançados neste ano. Das velharias, nem tanto, Dinosaur Jr., Sebadoh, Alejandro Escovedo, Andres Calamaro e Bob Dylan, de todas as fases. Ainda Walkmen, Black Angels, Awesome Color e Rapture. Isso agora, hoje…

segunda-feira, 23 de julho de 2007


Cubo de Ensaio

Por Suzanna F.

Uma mente pode se juntar a outra para oprimir, manipular, jogar botão, competir o cuspe que chega mais longe ou até promover um assassinato em massa.
Mas há aquelas que encontram oportunidades para colocar em prática o que existe de proveitoso lá dentro.
Não seria pretensão afirmar que muitas criações geniosas talvez não tivessem saído de algumas criaturas se elas não achassem a pessoa que acreditasse no mesmo propósito.
Algumas parcerias se formaram durante um projeto em desenvolvimento, outras consolidaram depois de algum tempo de relacionamento. E há aqueles que pareciam não existir até que conheceram o par que complementava alguma idéia absurda ou sonhadora.A maioria surge despretensiosamente, assim como o seu amigo que sempre está ali para ver você encher a cara mais uma vez, ou até depois de brigar com alguém e descobrir que aquele soco não foi por acaso.
Às vezes o início de uma amizade histórica acontece monossilabicamente.
Em um sábado comum de 1957, o The Quarry Men Skiffle Group tocava em uma festa que acontecia no jardim de uma paróquia.O líder conheceu um garoto que chegava de bicicleta, vestindo uma jaqueta branca e calça preta justa. Ele notou que o vocalista cantava "Come go with me" de Del Vikings, mas não sabia a letra.
O refrão era : "Come little darling, come and go with me, I love you darling." E ele cantava : "Down,down,down to the penitentiary".

Ivan Vaughn, que era o vizinho do vocalista apresentou-o ao garoto da bicicleta. Eles não trocaram uma palavra sequer até que o recém chegado pegou o violão de destro do músico, virou de cabeça para baixo e tocou "Twenty flight rock", de Eddie Cochran. O vocalista ficou impressionado, pois havia achado alguém tão bom quanto ele, que ainda o ensinou a afinar o violão. Foi aí que John Lennon decidiu chamar o garoto da bicicleta, chamado Paul McCartney, para tocar em sua banda.
Quatro anos após esse encontro, também em ares britânicos, dois garotos que só se conheciam de vista do colégio se reencontraram em uma plataforma de estação de trem. Um deles reconheceu o outro, e percebeu que ele carregava discos de Little Walter, Muddy Waters e Chuck Berry. Percebendo que havia interesses em comum em rock e blues, Keith Richards convidou Mick Jagger para tomar um chá em sua casa. Depois desse primeiro encontro os chás nunca foram os mesmos...
Durante os ensaios de Alice no país das Maravilhas, peça que seria apresentada na festa de formatura da sexta série, o Coelho Branco de Alice conheceu o Gato, e a partir desse dia Paul Simon e Art Garfunkel tornaram-se inseparáveis como coelho e gato?, e dessa parceria gravaram o single "Mrs. Robinson", estabelecendo a dupla como fenômeno pop.
Da próxima vez que for jogar sinuca, entrar em um metrô ou discutir em um bar qualquer, preste atenção ao cara que te pede um cigarro, pois talvez ele esteja procurando alguma coisa que você já tenha em mente.

fonte: Como eles se conheceram, Joey Green, Panda Books.